Pelo menos sete pessoas foram infectadas por coronavírus no casamento de Marcela Minelli em Itacaré, no início de março. Além da influenciadora Gabriela Pugliesi, irmã da noiva, e da atriz Fernanda Paes Leme, a cantora Preta Gil, contratada como estrela musical da festa, estava entre as personalidades que acabaram testando positivo para a Covid-19 após a celebração. Assim que soube que poderia ter sido contaminada, ela cancelou compromissos e se isolou em um quarto de hotel em São Paulo até a confirmação do exame. “Comecei a manifestar alguns sintomas e fiquei apreensiva, mas, felizmente, a doença não foi tão agressiva comigo”, conta, frisando que a parte mais difícil da recuperação foi lidar com a ausência de pessoas queridas. “O isolamento social não nos impede de demonstrar afeto.”
Preta Gil contou com a ajuda do marido Rodrigo Godoy, que mantinha cerca de dois metros de distância da cantora. Ele chegou a apresentar tosse, mas, sem ter desenvolvido outros sintomas, não fez o teste de coronavírus. Preta, por sua vez, sentiu dores no corpo, ouvido e de cabeça, além da perda de apetite, olfato e paladar. Embora não tenha tido febre, conviveu com o medo do agravamento da doença diante das recaídas ao longo do dia. “Às vezes, as dores eram muito fortes e incômodas. Se não tiver calma e confiança de que vai passar, você se desespera. O isolamento, por si só, já leva a um estado de abatimento. Tem que trabalhar bastante a mente para não entrar em pânico.”
Durante o período de recuperação, que durou duas semanas, Preta ficou afastada do filho Francisco Gil e da neta Sol, de quatro anos. Tentava conversar com eles todos os dias por videoconferência e relaxava ao cantarem juntos. “Quando a gente está acamado, se sentindo mal, a gente não tem forças pra fazer nada”, diz. “As pessoas que estiverem com sintomas leves e isoladas em casa vão se ver na situação de se autocuidar. Por isso é muito importante prestar solidariedade. Fazer com que a pessoa infectada se sinta amada. O isolamento é social, não afetivo. Eu tive todo tipo de amparo, do atendimento médico às relações de afeto. Mas muitos não terão esse privilégio, e vão precisar contar com o apoio de uma rede solidária para não ficar ainda pior.”
No último dia 26, a cantora deixou o hotel onde estava confinada com o marido após receber alta médica e voltou para a casa da família no Rio de Janeiro. Ela conta que vizinhos de condomínio reagiram mal a seu retorno, por pensarem que ainda pudesse transmitir o vírus. “Eu estou curada. Tomei todos os cuidados para não colocar ninguém em risco. Não pode ter esse preconceito depois que superamos a doença.” Ao perceber que muita gente ainda trata a pandemia como um exagero, ela decidiu compartilhar a rotina de recuperação em suas redes e repassar informações que ouvia dos médicos que a atenderam aos fãs. “A grande parcela do problema do coronavírus é a desinformação. Busco dividir com o máximo de gente possível o que eu passei com intuito de informar. Tem muita fake news.” A própria Preta foi vítima de uma notícia falsa, que circulou pelo Facebook, insinuando que ela teria cantado, já infectada, em um bloco de Carnaval antes do casamento em Itacaré. “Eu nunca estive tão cansada na minha vida, de tanto que falo no telefone. Vejo que as pessoas têm muitas dúvidas sobre a doença, mesmo com a cobertura o dia inteiro na televisão.”
Para Preta Gil, que agora segue em quarentena domiciliar, assim como seus familiares, o caminho de superação da pandemia depende do cumprimento das medidas restritivas decretadas pelos Governos. “Isolamento social não é mais uma opção, é uma necessidade, o melhor que podemos fazer nesse momento. Não estamos de férias, mas sim numa força-tarefa contra um vírus extremamente preocupante.” Ela incentiva a adoção de práticas solidárias não apenas para acolher pessoas infectadas, mas também os mais afetados pelos impactos econômicos da crise, como fazer vaquinhas de apoio a pequenos comércios, se voluntariar para fazer compras ou comida para idosos do grupo de risco ou encontrar tempo para conversar —por telefone e aplicativos— com amigos e vizinhos em isolamento.
“O medo nos paralisa e nos faz ficar egoístas. Precisamos incentivar a cultura da doação. É hora de exercitar nosso sentimento humanitário”, afirma a cantora, que pretende, após o fim das restrições de circulação, dar um mergulho na praia que, mesmo estando em frente à sua casa, ela nunca frequentou. “Estou mais contemplativa e introspectiva, tentando entender de que forma essa pandemia vai mexer com a gente e usar esse tempo da quarentena para refletir sobre as mudanças que a humanidade vai viver depois da crise. Sem desprezar a gravidade da situação mundial, eu encarei meu processo de cura como uma oportunidade de recomeço que a vida me deu.”